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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Candomblé e Ética

Temos que ter muito claro que para falarmos de ética dentro de uma determinada religião o primeiro impulso que devemos ter é de fazermos uma separação entre o que se entende por bem e mal. Ao falarmos das religiões Afro-brasileiras ou afro-descendentes como preferem alguns, não podemos nos envolver com conceitos cristãos de pecado, haja vista não fazer parte de nosso universo religioso.
Estas religiões, desde que existem, têm normas que lhes norteiam, mas que nem sempre são do conhecimento e observância de seus sacerdotes, pois cada Babalorixá /Iyalorixá ou Dirigente Espiritual cuida de colocar suas próprias normas dentro de suas Casas. Isto ocorre até porque não temos um único Mandatário Supremo, todos são supremos em seus Axés. Porém, isto não impossibilita que todos se unam para zelar pelos “Códigos de Ética” que sempre existiram, muito embora a idéia seja que só agora estamos criando essas normas. Ocorre que para isto todos são chamados a observar e cumprir com essas posturas, passarmos para nossos filhos e simpatizantes aí já estaremos ajudando e muito para que a religião tenha seu lugar de respeito e credibilidade. Como disse, tenta-se por no papel aquilo que na prática já existe e só precisa ser observado.
Vejamos, pois que normas, que códigos devemos observar:
1. É imperativo que dentro dos Cultos Afro-brasileiros, todos estejam preocupados em manter a tradição religiosa e cultural de seu grupo, sem misturas e enxertos, sem junções e adições absurdas e desastrosas e que estas mesmas religiões deixem de se preocupar apenas com a parte litúrgica, para também se dedicarem ao bem-estar das pessoas, da comunidade como um todo, do país, do mundo, e também que esteja sempre presente a preocupação na preservação do meio ambiente, lembrando que somos uma religião ecológica por excelência.
2. Precisamos aprender a respeitar a nação do outro, pois todos os segmentos têm origem em comum na Mãe África, cultuam Orixá, Vodun, Nkissi, Bacuro, Encantados e Guias que são muito queridos e amados por seus adeptos. O desrespeito à liturgia e ao ritual de cada um incorre num grande mal para toda a comunidade afro-brasileira.
3. Precisamos ter respeito com os mais velhos, com os Agba da religião, com nossos ancestrais. Vêem-se hoje em dia pessoas novas chamando a atenção e querendo ensinar os mais antigos. Se os mais velhos não souberem nada, o que diremos dos novos? Pensamos que se precisa de entendimento e muito diálogo entre as gerações a fim de se tirar o melhor proveito. Mas tudo com seriedade e dignidade.
4. Em todos os grandes eventos (Congressos, Seminários, Encontros etc.), deve-se ter um Cerimonial adequado para se ver “quem é quem”, dando-se as devidas precedências e evitando-se constrangimentos ao se destacar, por exemplo, um filho em detrimento de seu pai. É antiético.
5. Nas festas religiosas (Toques), devemos nos preocupar com nossos convidados e dar-lhes a atenção devida, também fazendo com que todo o Egbé saiba se portar e respeitar. É desagradável chegarmos a lugares onde muitos torcem a cara e ignoram aqueles que com carinho ali estão para prestigiar e participar.
Urge que conversemos com nossos Sacerdotes e adeptos para que não confundam religião com “questões sexuais”. Graças à Avievodum, Olodumare, Zambiapongo, temos uma religião liberal que não nos castra. Por isso, devemos respeitar a todos independente de suas opções, seus desejos e orientação; Devemos lutar pela união sincera e verdadeira das pessoas interessadas na preservação dos nossos segmentos religiosos.
A discórdia, a desunião, a intriga só enfraquece a própria religião. Cada um deve fazer sua parte, com critérios, com seriedade, com dignidade. Não devemos nos ver como concorrentes, mas como membros unidos de um mesmo corpo. Precisamos acabar com a idéia de que um é melhor que o outro. Para nosso Deus Olorum somos todos iguais. Será, por exemplo, que meu Vodum Toy Azonce só gosta de mim e não gostará de outros seus filhos? Será que Odé, Oxossi, Águè só ama um filho e esquece os outros? Não, certamente que não, o problema é individual, é pessoal, é falta de boa formação, de bom berço; Vamos lutar para que os congressos sejam fóruns de grandes decisões, de momentos de verdadeiras reflexões, de congraçamentos, de bons e felizes reencontros e não que deixemos nossos lares para nos digladiar.
Não devemos confundir pontos de vista diferentes com geração de ódio. Isso não é ético; Vamos valorizar com toda sinceridade as diferentes formas tradicionais dos cultos afros. Lutemos por uma união e não por uma unidade.
Daí o lema da INTECAB que é a “união na diversidade”; Resgatemos a língua de cada culto e devemos usar nossos títulos corretamente. Jamais se deve estimular o absurdo, a invencionice, títulos inadequados. Por exemplo: não é ético chamarmos uma Sacerdotisa de Umbanda de Iyalorixá, pois esta não foi iniciada e nem inicia ninguém. Seu grande valor está em ser uma Dirigente Espiritual, uma digna Babá de Umbanda sem nenhum demérito de seu potencial espiritual e material;
Todos têm o dever de recusar a efetivação de rituais religiosos que firam sua tradição de origem e sejam contrários aos ditames de sua consciência;
É de suma importância zelar pela dignidade da tradição e cultura Afro-brasileira em todos os seus níveis de desdobramentos, sendo este o papel preponderante de todos os verdadeiros Sacerdotes;
Somos todos tradicionalistas: da Umbanda, do Kêtú, do Mina Jêje, do Ifon, da Angola, do Jêje Mahi, do Omolocô, do Nagô Egbá, do Alakêtú, do Mina Nagô, da Encantaria, da Tradição de Orixá ou do Fanti-Ashanti, desde que sigamos nossos rituais e costumes legados por nossos antepassados. Esta é uma postura ética que precisa ser levada em conta;
Reflitamos para podermos melhorar nossa atual religiosa e social, para que assim possamos crescer espiritualmente.

3 comentários:

  1. Concordo com o nobre blogeiro quando diz que cada babalorixá/Iyalorixá ou dirigente espiritual cuida de colocar suas próprias normas dentro da sua casa, desde que essas normas sejam de caráter social, sem adulterar o código de éticas religiosas, pois este é sagrado e seria antiético que fossem modificado; concordo também quando diz que precisamos aprender a respeitar a nação do outro, só que esse respeito muitas vezes acaba onde começa o desrespeito ás tradições culturais e religiosas de um povo. Estou de pleno acordo também, quando diz que não é ético se chamar uma sacerdotisa de umbanda de yalorixá, pois esta deve ser chamada de mãe de santo, se for de jurema – é madrinha, se é um sacerdote de nação jeje – babá vodun – se for de ketu ou de nagô – babálorixá, se for de nação angola – tatá t’inkises e jamais se deve atribuir o título de babalorixá ou yalorixá pra um recém iniciado, quando este não tem casa aberta e nem tem a missão de cuidar de ori, bem como, respaldo pra isso, deve-se chamar de Iyawó. Na verdade meu caro, quem tem respeito pelos mais velhos respeita as velhas tradições deixadas pelos nossos ancestrais.
    Em se tratando de ética o titular desse blog está sendo antiético, pois não assina as matérias por ele postadas, sem falar que esse termo não perece ta sendo tão abrangido pelo nobre colega, nem na lógica nem na retórica.

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  2. EU Adoro a Casa De Yemanjá Sabá , sempre vou aos rituais de Xirê , o Babá Noamã nem se fala , e uma pessoa excelente , gosta de ensinar , emfim adoro sua casa e seus filhos Babá Noamã !

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  3. Obrigado Mikael, por se referir a Casa de Yemanjá, a minha pessoa, bem como aos meus filhos, de forma tão carinhosa. Tenho muito respeito e carinho por você também e acho que você tem um grande caminho a seguir.
    Um abraço!!!!!!!!

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