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sábado, 18 de dezembro de 2010

Saída da Ebame de Oxum Apará

Neste 18/12, a Kwê Obá Dan do Babalorixá Paulo Henrique de Feken estará abrindo suas portas para toda comunidade Candomblecista presenciar a saída da Ebame Vanna de Oxum Apará, feita pelo Babalorixá Nilklebert de Oxum Ijimum. Vanna está recolhida desde o dia 10/12, neste período foram feitos todos os fundamentos necessários para que a mesma possa receber os direitos de Yalorixá. O Xirê iniciará às 16h30, todos os adeptos e simpatizastes estão convidados à testemunharem a entrega de Deka a Yalorixá Vanna de Oxum Apará.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Candomblé herança da escravidão

No tempo da escravidão muitos negros foram caçados e trazidos da África para o nosso país. O cativeiro levou-os a se revoltarem contra os dominadores brancos. A mais importante dessas revoltas ocorreu em janeiro de 1835. Organizada por africanos de formação muçulmana - Os Malês - a rebelião foi dizimada pelas tropas do governo, com o apoio das classes dominantes baianas. Vendo que a união de um determinado grupo na mesma região da África causa problemas aos senhores, o governo desenvolveu a política de reunir em cada senzala negros de diversas etnias.

Neste momento histórico os negros vindo de diversas região da África com seus deuses, os orixás, se encontram unidos apenas pela condição do cativeiro. Contrariando todas as opressões sofridas, toda tentativa de disseminação da cultura, os negros lutaram e juntos nas senzalas conseguiram se unir surgindo assim o candomblé, que é a união de vários orixás em um determinado espaço, terreiro.

Dizem os mitos que no inicio dos tempos havia apenas um deus, um deus supremo que os afro-brasileiros chamam de Olorum, o dono do céu. Foi Olorum quem criou os deuses orixás e entregou a eles a criação do mundo. Assim um certo orixá cuida do raio, outro da chuva, outro do mar, das colheitas , do comercio, da justiça etc. Desde então Olorum não mais se intrometeu no que acontece na vida dos homens, preferindo deixar tudo nas mãos dos orixás.

Com o passar do tempo, a religião que eles criaram no Brasil foi deixando de ser uma religião só de descendentes africanos passando a ser uma religião de brasileiros. No candomblé, na umbanda e em outras religiões afro-brasileiras, os orixás passaram a ser cultuados por negros, brancos, amarelos e mestiços.

Durante as cerimônias nos terreiros, templos da religião dos orixás, os orixás se manifestam no corpo de seus filhos. Eles vêm para dançar junto com os humanos, para celebrar a união dos homens com seus deuses. As celebrações nos barracão, os toques, consistem numa seqüência de danças, em que, um por um, são honrados todos os orixás, sendo vestidos com roupas de cores específicas, usando nas mãos ferramentas e objetos particulares a cada um deles, expressando-se em gestos e passos que reproduzem simbolicamente cenas de suas biografias míticas. Essa seqüência de música e dança, sempre ao som dos tambores é designada Xirê, que em iorubá significa “vamos dançar”.

Hoje em dia um em cada cem brasileiros adora os orixás e freqüenta os terreiros para cultuá-los. Muitos outros, mesmo não fazendo parte da religião dos orixás, vão aos terreiros de candomblé em busca de ajuda e proteção dos deuses africanos.

Mais isso nem sempre foi assim houve uma época em que o candomblé uma religião proibida pela igreja católica, e perseguidas pelos poderes publicos , o candomblé prosperou nos quatro séculos, e expandiu consideravelmente desde o fim da escravatura em 1888. É agora uma das religiões principais estabelecidas na Bahia, com seguidores de todas as classes sociais e de milhares de templos. Na cidade do Salvador existem 1.138 terreiros registrados na Federação Baiana de Cultos Afro-brasileiros.

No candomblé, cada terreiro tem plena autonomia administrativa, ritual e doutrinária, tudo depende das decisões pessoais da mãe ou pai-de-santo. O controle social exercido entre terreiros, no conjunto geral do chamado povo-de-santo, se faz por redes informais de comunicação, em que a fofoca ocupa lugar privilegiado, sem que a independência do sacerdote-chefe de terreiro, contudo, sofra realmente qualquer limitação eficaz. Assim, cada comunidade de culto é livre para experimentar inovações ou retornar as formas anteriores, incorporando práticas que para outros da mesma religião podem não fazer o menor sentido.

O lado público do candomblé é visto por alguns como festivo, bonito, esplendoroso, mágico. Os orixás do Candomblé, os rituais, os terreiros, e as festas agora são vistos como uma parte integrante da cultura local e parte do folclore brasileiro. Por um lado podemos considerar esse fato como positivo, pois fortifica e fortalece a religião que já não mais poder ser perseguida. Por outro lado essa visibilidade o candomblé acaba , sendo confundido com manifestação folclórica ou forma de arrecadar dinheiro por quem anda faturando com visitas a terreiros.

CANDOMBLÉ NÃO É UMBANDA

Aos olhos do leigo, Umbanda e Candomblé são duas formas de denominar um mesmo culto. Mas na verdade, são duas religiões distintas, unidas apenas pelas roupas, pelos atabaques e pelo uso do transe mediúnico.
A começar pelas origens, o Candomblé é uma religião africana que existe desde os tempos mais remotos daquele continente e foi trazida para o Brasil através do fluxo da escravatura. Escravos de diversas tribos e nações Africanas continuaram a cultuar no Brasil os Orixás negros, suas divindades, e estiveram na origem da criação das chamadas “Casas de Santo” (Ilê), onde continuaram com os seus rituais e preceitos Africanos. As diversas origens das tribos, e as diversas regiões do Brasil onde se implantaram, deram origem às diversas Nações do Candomblé, onde o Ketu é tido como o mais tradicional.
A Umbanda, é até ao momento, a única religião criada no Brasil, foi fundada em 1917 na cidade de Niterói e reúne na sua filosofia, conhecimentos do Catolicismo, do Kardecismo, do Budismo, do Islamismo e do Candomblé, de onde tirou a forma de vestir dos médiuns (roupas de baianas), o uso dos atabaques (instrumentos de percussão) e a nomenclatura de sete dos Orixás (Oxalá, Iyemonjá, Oxun, Xangô, Oxósse, Exú e Nanã) – adoptando também para estes Orixás cores diferentes das utilizadas no Candomblé. A Umbanda portanto advém do sincretismo católico-feitichista, necessário numa época de grande repressão das religiões africanas no Brasil, em que era proibido o culto dos Orixás na sua forma de origem, e esta adaptação tornou-se necessária.
No Candomblé os cânticos são em línguas africanas (Iorubá ou Banto), dependendo da nação de origem daquele grupo. Os cânticos da Umbanda são em português. No Candomblé o culto é voltado unicamente aos Orixás que são considerados deuses e não espíritos. Na Umbanda trabalham com espíritos como caboclos, pretos-velhos e ciganos, entre outros. No candomblé, só os Orixás podem provocar a possessão; a nenhum espírito que tenha tido vida na terra, é permitido este fenómeno. Na Umbanda é permitida a incorporação de qualquer tipo de entidade. Sendo, assim, o que é incorporado na Umbanda não são os Orixás, mas guias, pois os mesmo não tem fundamentos necessários para tais possessões.
Um dos pontos em que também Candomblé e Umbanda têm pontos de vista diferentes é no que se refere ao culto de uma das divindades mais conhecidas popularmente, por tanto se recorrer a ela para a realização de todo o tipo de trabalhos: Exú.
De tal forma que suscitou o comentário que se segue por parte das Associações Brasileiras de Candomblé em congresso recente:
"Convém desfazer a confusão entre Exús (entidades) e Exú (Orixá).  
Os primeiros que muitas vezes possuem nomes que ressaltam características negativas e assustadoras, (…), são entidades que devem ser respeitadas, que tem o seu valor, mas que não pertencem,  de fato, ao Candomblé, cabendo à Umbanda (ou a quem as cultua) explicar as suas origens e funções.”

( L. Candomblé A Panela do Segredo-84)
Umbanda e candomblé são duas religiões respeitáveis, porém tão distintas quanto o protestantismo e o catolicismo.

A Lenda da Criação

Ao contrário do que se pensa, o Candomblé é uma religião monoteísta, ou seja, seus fiéis acreditam em um único Deus Supremo, chamado por muitos nomes em virtude de contrações e adaptações das línguas africanas, principalmente o yorubá. Os dois nomes mais conhecidos do Ser Supremo são Olodumaré e Olorum. A palavra Olodumaré é contração das palavras Ol' (oni) odu mare (ou ma re ou mo are). A palavra Ol' (oni) significa senhor, parte principal, líder absoluto, chefe, autoridade. Odu traduz-se como algo muito grande, um recipiente profundo, algo muito extenso, pleno. A parte final do nome Olodumaré parece ser originada tanto de mare (aquele que é absolutamente perfeito, o supremo em qualidades), quanto das combinações ma re (aquele que permanece, aquele que sempre é) ou mo are, que é aquele que tem autoridade absoluta sobre tudo o que há no céu e na terra e é incomparável. Já o nome Olorum é resultado da contração de Ol' (oni) e Orum, que quer dizer céu, designando o Senhor do Céu.
Assim como nas demais religiões monoteístas, segundo o Candomblé, Olodumaré criou o mundo material e tudo que está nele, inclusive o homem. Para ajudá-lo nessa tarefa, Olodumaré criou também os Orixás, forças sobrenaturais que habitavam o Orum (Céu) e se concretizaram associados às forças da natureza e seus elementos, manifestando-se através desses.
Pois bem. Conta a lenda que no princípio dos tempos existiam dois mundos: o Orum, espaço sagrado dos orixás, e o Aiyê, espaço dos seres vivos. No Aiyê primitivo só existia água. Um dia Olodumaré resolveu recriar o espaço para a humanidade que também criaria. Incumbiu, então, seu filho primogênito, Orixanilá (o nome mais sagrado de Oxalá) da execução dessa tarefa. Entregou-lhe uma cabaça contendo ingredientes especiais: a terra escura inicial, a galinha de cinco dedos, uma pomba e um camaleão. A terra escura deveria ser lançada sobre a imensidão das águas. A galinha de cinco dedos deveria ir ciscando a terra para alargá-la o mais que pudesse. A pomba, ao voar, orientaria a extensão da terra expandida e criaria o ar. E o camaleão, atento a tudo, observaria a execução da tarefa atribuída a Orixanilá, para reportar os fatos a Olodumaré. Assim foi explicado e, com seu cajado (opaxorô) e a cabaça da criação, Orixanilá iniciou sua caminhada do Orum para o Aiyê. Passou por Bará (Exu) e não pagou as oferendas devidas, mesmo tendo consultado Ifá e sabendo que devia fazê-lo. Em conseqüência disso, no meio do caminho Orixanilá sentiu-se cansado e com sede. Parou para descansar, bebeu um pouco de emu (vinho da palmeira do dendezeiro) e, embriagado, adormeceu. Seu irmão caçula, Oduduà (mais um nome da família de Oxalá), tendo-o seguido, recolheu a cabaça da criação e levou a notícia do ocorrido a seu pai, Olodumaré, pedindo a ele que o deixasse cumprir pelo irmão aquela tarefa de grande importância. Olodumaré concordou e, enquanto Orixanilá dormia, Oduduà criou a terra dos seres vivos. Depois de a galinha ciscar a terra, a pomba orientar a expansão do ar e o camaleão, que deu origem ao elemento fogo, verificar se a tarefa fora cumprida, surgiu a terra firme ou Ilê Ifé (que no idioma yorubá significa "terra que foi sendo ciscada"). Orixanilá então, vendo o mundo pronto, mostrou-se arrependido do seu ato de irresponsabilidade perante o pai. E, para que não se sentisse tão humilhado, Olodumaré resolveu, em um supremo ato de inspiração, dar a Orixanilá uma tarefa de tanta importância quanto a primeira: a de criar o homem que habitaria o Aiyê. Orixanilá usou o barro e a água para esculpir bonecos inanimados de todas as formas e de todas as cores. Olodumaré, então, soprou a vida nas narinas dos bonecos de barro, criando os seres humanos. Esse sopro da vida é chamado pelos yorubás de emi. Estavam então criados o mundo e o homem.


(Baseada em conhecimentos empíricos sobre o Candomblé e em obras literárias diversas sobre os mitos yorubás)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A importância de uma Ekedi

Ekedi Ivoneide de Yemanjá
A Ekedi em seu papel de Mãe exerce a função de Dama de Honra do Orixá regente da Casa. É dela a função de zelar, acompanhar, dançar, cuidar das roupas e apetrechos do Orixá da Casa, além dos demais Orixás, dos filhos e até mesmo dos visitantes. É uma espécie de “serva” que atua sempre ao lado do Orixá e que também cuida dos objetos pessoais do Babalorixá ou Iyalorixá. O cargo de Ekedi é muito importante, pois será ela a condutora dos Orixás incorporados no Barracão e dela é a responsabilidade de recolhê-los e “desvirá-los”, observando as condições físicas daqueles que “desviraram”. O procedimento para se tornar Ekedi é o seguinte: primeiramente ela é apresentada – não suspensa, como o Ogan – e logo depois será confirmada, com as obrigações de Roncó.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

OGAN: Sacerdote escolhido pelo Orixá

Saída do Ogan Flávio de Oxalá
Kwe Obá Dan - Nação Jeje
Areia Branca/RN
Ogan nome genérico para diversas funções masculinas dentro de uma casa de Candomblé. É o sacerdote escolhido pelo orixá para estar lúcido mediante a todos os trabalhos, não entra em transe, mesmo assim não deixa de ter a intuição espiritual. Os atabaques do candomblé só podem ser tocados pelo Alagbê (nação Ketu), Xicarangoma (nações Angola e Congo) e Runtó (nação Jeje) que é o responsável pelo Rum (o atabaque maior), e pelos ogans nos atabaques menores sob o seu comando, é o Alagbê que começa o toque e é através do seu desempenho no Rum que o Orixá vai executar sua coreografia, de caça, de guerra, sempre acompanhando o floreio do Rum. O Rum é que comanda o Rumpi e o Lê. Os atabaques são chamados de Ilú na nação Ketu, e Ngoma na nação Angola, mas todas as nações adotaram esses nomes Rum, Rumpi e Le para os atabaques, apesar de ser denominação Jeje. No Candomblé Jeje os cargos de Ogan são assim classificados: Pejigan que é o primeiro Ogan da casa Jeje. O mais velho de todos os ogans geralmente mais sábio. O segundo é o Runtó que é o tocador do atabaque Run, porque na verdade os atabaques Run, Runpi e Lé são Jeje. Axogun - É um ogan de suma importância no Candomblé, é o responsável pela execução sacrificial dos animais votivos, é um especialista no que faz. Candomblé Ketu Alagbê - O chefe dos tocadores de atabaques, os instrumentos de percussão. Ogan gibonã - Zelador da casa de exu, outro ogan de suma importancia, pois seus conhecimento ajudam na firmeza da casa. Ogan Apontado - Pessoa apontada como possível candidato a Ogan. Equivalente ao Ogan suspenso. Ogan Suspenso - Pessoa escolhida por um Orixá para ser um Ogan, é chamado suspenso, por ter passado pela cerimônia onde é colocado em uma cadeira e suspenso pelos Ogans da casa, significando que futuramente será confirmado e passará por todas obrigação para ser um Ogan. Há também outros Ogans como Gaipé, Runsó, Gaitó, Arrow, Arrontodé. Candomblé Bantu * Tata NGanga Lumbido - Ogã, guardião das chaves da casa. * Kambondos - Ogãs. * Kambondos Kisaba ou Tata Kisaba - Ogã responsável pelas folhas. * Tata Kivanda - Ogã responsável pelas matanças, pelos sacrifícios animais (mesmo que axogun). * Tata Muloji - Ogã preparador dos encantamentos com as folhas e cabaças. * Tata Mavambu - Ogã ou filho de santo que cuida da casa de exú (de preferência homem, pois mulher não deve cuidar porque mulher mestrua e só deve mexer depois da menopausa, quando não mestruar mais, portanto, pelo certo as zeladoras devem ter um homem para cuidar desta parte, mas que seja pessoa de alta confiança). * Xicarangoma - O chefe dos tocadores de atabaques, os instrumentos de percussão. 
( texto extraido: Wikipédia, a enciclopédia livre)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A ENTREGA DE DEKÁ

Esta é uma cerimônia na qual, a pessoa recebe seu Deká ou sua Cuia como normalmente em nosso meio se diz. É o momento tão esperado pelo filho(a) de santo, como também pelo seu Orixá.

Após sete anos de iniciado e tendo cumprido todas as obrigações: de um ano, de três anos, e a de cinco anos de iniciado, o filho ou filha de santo, se recolhe para o recebimento de seus direitos sacerdotais. Em alguns casos, por vários motivos, a pessoa não passa os sete anos de obrigação, a esses chamamos de yaô-deka, porém recebem os mesmos fundamentos e são dignos do mesmo respeito que os demais ebames.

O deká é uma obrigação sem a qual uma pessoa não pode se dizer sacerdote ou sacerdotisa de Orixá, pois nela são entregues a ele, todos os fundamentos pertinentes para que possa exercer o sacerdócio.

Nesse período a pessoa, após passar pelos ebós de praxe, fica recolhida sete dias, e muitos fundamentos lhe são entregues. É o momento em que a pessoa deixa de ser yaô ou noviço. Mas algumas regras têm que ser obedecidas e muitos fatores devem ser analisados com calma pelo zelador que vai entregar os direitos de um determinado filho(a) de santo.

Uma das coisas que devem ser observadas é se aquele Santo traz para seu filho o que chamamos de “balaio de axé”, ou seja: o cargo para ser sacerdote ou sacerdotisa de Orixá. O fato de uma pessoa tomar a obrigação, não significa necessariamente que terá uma casa aberta, que poderá administrar um templo, somente poderá agir assim, se seu santo trouxe para ele o cargo.

Caso seja positivo, ou seja, seu Santo traz essa determinação de Orumilá, essa pessoa terá todo direito de abrir sua casa, de tocar festas, tirar yawô e realizar todos os atos pertinentes ao cargo para o qual terminou de ser consagrado.

Caso a pessoa não tenha o “balaio de axé” ele tomará sua obrigação de sete anos, porém, não será um sumo sacerdote ou sacerdotisa. Será um ebomi que permanecerá na casa de santo, auxiliando seu sacerdote em todos os fundamentos que acontecerem naquela casa. Isso não diminui sua importância dentro do Axé Orixá, de forma alguma. Ao contrário: essa pessoa deverá ser respeitada por todos daquela casa ou de outras, pois seu Santo traz para ele, outros cargos, outras missões, que são da mesma forma, imprescindíveis ao axé.

Se ele tem o “balaio de axé”, deverá receber seus direitos e com eles, em suas mãos, poderá abrir seu templo, observando que a pessoa que entregou os mesmos, é que deverá plantar todos os fundamentos, pois ninguém planta seu próprio axé, temos que ter uma pessoa para realizar os fundamentos, e justamente quem nos entregou nossos direitos é quem deve realizar os mesmos.

Depois de plantados os fundamentos, a casa, erguida com todos os cômodos necessários para abrigar as divindades, será realizada uma festa na qual aquele sacerdote anunciará ao público que aquela pessoa tem seu consentimento para seguir em frente governando o templo, durante toda sua vida.

Deve-se obervar que tudo dentro do Candomblé, obedece a uma rigorosa hierarquia e estas tem que ser respeitadas, pois é o baluarte da religião. E dentro dessa hierarquia toda, existem os cargos que cada Orixá traz muito antes do nascimento carnal daquela pessoa, e esses cargos tem que ser respeitados, pois ninguém é um zelador ou zeladora de santo tão somente porque deseja ser ou por achar bonito. Se não se tem aquele cargo, nem adianta tentar, pois, jamais terá bons êxitos em suas realizações.

Não basta tomar obrigação de sete anos, receber um jogo de búzios e sair se dizendo “pai” ou “mãe” de santo. Precisamos observar as regras e termos consciência de que temos ou não, determinado cargo, e acima de tudo buscar o respeito mútuo entre todos que fazem o Barracão.

domingo, 12 de dezembro de 2010

A Iniciação no Candomblé


Não há nada mais difícil, desafiador e ao mesmo revelador do que o a iniciação no Candomblé.
O processo iniciático começa com uma lenta regressão. A pouco e pouco, vamos nos desligando da vida profana exterior ao Barracão e mergulhando no ambiente do Terreiro.Nessa imersão, somos gradativamente limpos de todas as energias negativas, das vaidades, das individualidades; e vamos sendo apresentados a uma nova sociedade: a Comunidade de Axé. Essa sociedade tem regras e rotinas próprias. E para bem entendermos essa dinâmica ímpar,aprendemos logo de início os pilares básicos: obediência aos mais velhos, humildade e solidariedade. 

Na iniciação, reaprendemos tudo. Reiniciamos a vida. Renascemos para o Orixá e com o Orixá. Inicialmente nos parece incômodo e sem sentido só falarmos quando nos é dada licença; não olharmos nos olhos dos nossos interlocutores; sermos privados das mais íntimas e básicas escolhas. Mas essas são profundas e sábias instruções. São indicativos de que devemos aprender a “sentir”, antes mesmo de aprendermos a “agir”. É dessa sensibilidade, é dessa dedicação que o Orixá precisa para se manifestar em nós de forma plena.

Esse período de regressão e imersão é único. Nunca em toda a nossa existência, teremos 21 dias de retiro para pensarmos exclusivamente em nossa vida. Repensarmos nossos atos, reprojetarmos nossas estratégias de vida, desenvolvermos nossa relação com os Orixás.Neste período, conhecemos suas histórias, regências, energias, rezas, cânticos, toques, danças, mistérios e tabus.

Na iniciação, nos deparamos com as mais fortes manifestações de energia de nossa existência, até então. Morremos e nascemos, pedindo licença e bênçãos a todos os Orixás. Redirecionamos nossos odus (destinos), sedimentamos nosso vínculo definitivo com nosso Orixá. Ao contrário do que pensam, esse chamado vínculo definitivo nada tem de prisão. Pelo contrário! Os Orixás são forças da natureza e na natureza não há prisão, há liberdade! Liberdade de sentir, de perceber, de reconhecer, de intuir, de realizar. A prisão só existe na consciência pesada de cada um. Muitos homens viveram presos em celas, atados a grilhões de ferro, mas eram livres em sua fé, em seus pensamentos. Como nos ensinaram nossos ancestrais escravizados, e como modernamente nos mostrou o ícone Mandela.

Após todos os procedimentos litúrgicos, quando o Orixá dá seu nome diante da Comunidade, ali inicia a festa de nascimento de mais um adepto. Ali festeja-se a preservação e o crescimento da tradição trazida do outro lado do Atlântico, embutida no peito dos escravos.Naquele momento renasce e renova-se a esperança, a vida e a fé. Depois desse evento, como bebês recém-saídos do útero de Oxum, vamos então lentamente sendo reconduzidos à vida, experimentando novamente o retorno aos hábitos do cotidiano.Vamos valorizando a liberdade em cada gesto, em cada pequena permissão que nos é concedida.

Deveríamos falar mais sobre a iniciação. Acho importante que o iniciado valorize cada minuto dessa experiência tão especial. É importante que ele se prepare não somente para os ritos, mas para o fenômeno de renascer. Para a rara oportunidade dereescrever a sua história. Desejo que os abiãns não queiram se iniciar pela mera vaidade de serem adoxados.
Desejo que o exercício de humildade aprendido, seja praticado também do lado de fora do roncó.

Desejo que os irmãos se preocupem mais em orientar do que em punir.
Desejo que tenhamos sempre força para não nos afastarmos dos nossos propósitos, e acima de tudo, que não nos esqueçamos nunca de que o Candomblé é uma Religião. Não é uma seita, nem um conjunto de rituais que visam apenas sortilégios e magias, sem regras, sem moral e sem ética.
Por isso o sentido da iniciação: para que o homem velho morra em vida, cedendo espaço para que o homem novo reconduza sua existência em harmonia com os deuses, com sua consciência e com a natureza.

Que Olorum, o Pai Criador,  nos ilumine e ampare em nossa jornada.

(Texto de Márcio de Jagun)

sábado, 11 de dezembro de 2010

ORIXÁ EXISTE PARA TODOS, MAS NEM TODOS EXISTEM PARA O ORIXÁ

Durante minha trajetória dentro do Candomblé, encontrei as mais diversas pessoas, e, todas professavam fé nos Orixás. Mas posso garantir que muito poucas encontrei que realmente tivesse a tal fé professada.

Ocorre que, antigamente, uma pessoa fazia santo, para ser esposa ou esposo de Orixá. Tinha em mente que seu Orixá era nada mais nada menos, que uma religião e como tal, intercederia sim em sua vida, mas suas provações não deixariam de existir.

Não se fazia Santo com o intuito de enriquecer, de se tornar celebridade. Apenas se fazia Santo para se cumprir uma exigência daquele ser Divino, que cobrava a iniciação. Eram as pessoas; felizes com seu Orixá, não importando os problemas que tivessem em suas vidas, pois sabiam que vivemos em um mundo onde a maldade e a desigualdade imperam.

Não havia o tipo de pergunta: “onde está o santo?” “Foi para isso que dei comida ao Santo?”.

As pessoas eram felizes pelo simples fato de estarem comungando com sua fé, sabendo que dias melhores estavam por vir.

Hoje, coitado do Santo que não der um carro zero a seu filho, uma mansão para determinado cliente e assim por diante. Trocaram a fé pelo conforto material, o amor pelas divindades foi trocado pelo luxo e pela avareza.

Não sou muito velho no santo, fui iniciado em 1983 e muito aprendi no quesito de amor ao santo acima de tudo nessa Terra. Vi muitas pessoas realmente velhas no santo, professarem seu amor, sua dedicação aos seres que governam a natureza. Tive o privilegio de conviver com pessoas que não mais estão nesse mundo, mas, que deixaram sua marca de amor e submissão ao Orixá e às vontades de Deus.

O que vejo hoje, muito me entristece, pois vejo pessoas que se dizem com fé, blasfemarem aos quatro cantos do mundo contra os Orixás, quando algo não sai do jeito que desejam.

Já encontrei até mesmo pessoas que nunca tomaram sequer água de obi, mas por terem santo de alguém de sua família em casa, que ao passarem certas dificuldades, perguntou aos Santos:

“O que vocês estão fazendo aqui?”

Quanta pobreza de espírito! Quanta maldade no coração dessa pessoa! Pergunto-me: por que a sua religião, a qual frequentou tanto tempo, não deu moral em seu espírito nem a livrou de tanto sofrimento?

Simples, porque era somente sua religião e nada mais, além disso.

O fato de termos um Orixá, não significa que não mais iremos ter problemas em nossas vidas!

Ao contrario: sabe-se que toda pessoa que tem muita fé, sofre ainda mais que os demais, pois é testada a cada dia pelas forças negativas. Encontro sempre em meus caminhos, pessoas que professam outra religião, mas que sofrem muito e nem por isso culpam Deus por seu sofrimento.

Eu mesmo já passei por muitas coisas ruins nessa vida, de chegar ao ponto de ser roubado por um filho de santo, mas nem por isso culpei santo algum, nem mesmo o dele, pois penso que as coisas do mundo, tratamos no mundo.

Mas, as pessoas do Candomblé não podem passar por nada, que logo questionam: “onde está o santo”? Até mesmo pessoas de outras religiões, perguntam a mesma coisa. Quem disse que pelo fato de ser iniciada no Candomblé, uma pessoa deixaria de ter problemas ou de sofrer nesse mundo, sendo ele um planeta de expiações?

Passamos hoje e passaremos sempre por nossas provações, independente da religião que sigamos. Os Orixás existem para nos darem forças para seguir em nossa jornada e não como promessa de uma vida perfeita.

Ao invés de reclamarem do santo, por que não dizem: “ainda bem, porque senão fosse o santo poderia ter acontecido algo muito mais grave comigo”.

Viver para o santo é viver em uma eterna clausura, onde a vida material muito pouco existe para nós. Não cabe dentro do axé Orixá, reclamações, vinganças, lamúrias nem nada parecido.

Dentro do mundo dos Orixás cabe somente o amor e a submissão às vontades de Deus. Não nos é permitido questionarmos os mistérios de Deus nem de seus mensageiros. Se sofremos é tão somente porque estamos em um mundo onde a dor e a tristeza são partes ativas do viver.

Ao que me lembre de Orixá nunca nos prometeu, dia sem chuva, noite sem luar, vida sem tristeza, a única coisa que prometem, são fidelidade, amor e companheirismo por toda a vida!

Assim, se sua vida anda ruim, não se lamente, nem blasfeme contra os Orixás, mas faça algo para modificar seus dias e sua vida!

Texto extraído na íntegra de Tatetú N’Inkisi Odé Mutaloiá.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

KOLOFÉ, MUKUIU, MOTUMBÁ...


Saudosos os tempos em que essas palavras eram usadas com amor e orgulho pelos iniciados no Caminho do Orixá. Tínhamos orgulho em pedir a benção de uma pessoa mais velha, pois, significava para nós a proteção, o reconhecimento, enfim, tudo de melhor que poderíamos ter e desejar.
Hoje as pessoas parecem sentir vergonha de pedirem a benção e quando o fazem, podemos notar que é de forma automática, somente por obrigação mesmo e como se desejassem nos fulminar.
Aprendi dentro da casa onde me iniciei que uma benção de uma pessoa do santo, é na verdade a benção do próprio Orixá, e que jamais deveríamos nos negar a pedir a benção de quem quer que fosse, uma vez que mais tarde nos tornaríamos um zelador ou zeladora e essas as bênçãos recebidas em nossa jornada como yawô, seriam nossa principal base de sustentação.
As pessoas de hoje, sentem repúdio ao pedirem um Kolofé, Mukuiu, Motumbá, acham-se poderosos demais para tal atitude, esquecendo-se de que dentro de nossa religião, o que conta é a humildade acima de tudo. Arrogância e prepotência nunca foram partes da iniciação de uma pessoa, ao contrário pessoas assim são repudiadas quando demonstram tais ações e atitudes.
Os mais velhos devem ser respeitados e amados, até por que precisamos de sua experiência como uma criança precisa da experiência de seus pais. Tanta coisa a ser aprendida e perdem seu tempo com fofocas, orgulho, soberba, esquecendo-se de que é justamente com os antigos que aprendemos até mesmo a acender uma vela para nosso orixá.
Mas, a religião segue em frente, muito embora cada dia mais as igrejas estejam cheias de dissidentes do Candomblé, que ao verem suas ânsias de aprendizagem frustradas, se dedicam noite e dia a difamarem quem os acolheu em seus momentos mais difíceis quando não tinham nem mesmo um caminho a seguir. E por que fracassaram? A resposta é simples: fracassaram porque Orixá e humildade acima de qualquer coisa e nossos mais velhos jamais passam seus verdadeiros conhecimentos a quem não faça por merecê-los.
Refaçamos nossa jornada, aprendamos a nos colocar a mercê de nossos guardiões e veremos tudo se transformar para melhor em nossas vidas.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A Nação JEJE


A palavra JEJE vem do yorubá adjeje que significa estrangeiro, forasteiro. 

Portanto, não existe e nunca existiu nenhuma nação Jeje, em termos políticos. 

O que é chamado de nação Jeje é o candomblé formado pelos povos fons vindoda região de Dahomé e pelos povos mahins. 

Jeje era o nome dado de forma perjurativa pelos yorubás para as pessoas que habitavam o leste, porque os mahins eram uma tribo do lado leste e Saluvá ou Savalu eram povos do lado sul. O termo Saluvá ou Savalu, na verdade, vem de "Savê" que era o lugar onde se cultuava Nanã.
Nanã, uma das origens das quais seria Bariba, uma antiga dinastia originária de um filho de Oduduá, que é o fundador de Savê (tendo neste caso a ver com os povos fons). O Abomei ficava no oeste, enquanto Axantis era a tribo do norte. Todas essas tribos eram de povos Jeje. Os povos Jejes se enumeravam em muitas tribos e idiomas, como: Axantis Gans Agonis Popós Crus, dentre outros. 

Portanto, teríamos dezenas de idiomas para uma tribo só, ou seja, todas eram Jeje, o que foge evidentemente às leis da lingüística - muitas tribos falando diversos idiomas, dialetos e cultuando os mesmos Voduns.

As diferenças vinham, por exemplo, dos Minas - Gans ou Agonis,Popós que falavam a língua das Tobosses, que a meu ver, existe uma grande confusão com essa língua.

Os primeiros negros Jeje chegados ao Brasil entraram por São Luís do Maranhão 
e de São Luís desceram para Salvador, Bahia e de lá para Cachoeira e São Félix. 
Também ali, há uma grande concentração de povos Jeje. Além de São Luís (Maranhão), Salvador e Cachoeira e São Félix (Bahia), o Amazonas e bem mais tarde o Rio de Janeiro, foram lugares aonde encontram-se evidências desta cultura.

Os Voduns:Segue alguns nomes dos Deuses Voduns:

*Ayzan - Vodun da nata da terra 

*Sogbô - Vodun do trovão da família de Heviosso 
*Aguê - Vodun da folhagem 
*Loko - Vodun do tempo 

Os vodun-ses da família de Dan são chamados de Megitó, enquanto que da família de Kaviuno, do sexo masculino, são chamados de Doté; e do sexo feminino, de Doné.

Os cumprimentos ou pedidos de bençãos entre os iniciados da família de Dan seria 

“Megitó Benoí?” Resposta: “Benoí”; e aos iniciados da família Kaviuno, ou seja, Doté e Doné seria “Doté Ao?” Resposta: "Aótin". O termo usado "Okolofé", cuja resposta é "Olorun Kolofé" vem da fusão das Nações de Jeje e de Ketu.
Muitos Voduns Jeje são originários de Ajudá. Porém, o culto desses voduns só cresceram no antigo Dahomé.
Muitos desses Voduns não se fundiram com os orixás nagos e desapareceram totalmente.
O culto da serpente Dãng-bi é um exemplo, pois ele nasceu em Ajudá, foi para o Dahomé, atravessou o Atlântico e foi até as Antilhas. Quanto a classificação dos Voduns Jeje, por exemplo, no Jeje Mahin tem-se a classificação do povo da terra, ou os voduns Caviunos, que seriam os voduns Azanssu, Nanã e Becém. 
Temos, também, o vodun chamado Ayzain que vem da nata da terra. Este é um vodun que nasce em cima da terra.  É o vodun protetor da Azan, onde Azan quer dizer "esteira", em Jeje. Achamos em outro dialeto Jeje, o dialeto Gans-Crus, também o termo Zenin ou Azeni ou Zani e ainda o Zoklé. Ainda sobre os voduns da terra encontramos Loko.
Ele apesar de estar ligado também aos astros e a família de Heviosso, também está na família Caviuno, porque Loko é árvore sagrada; é a gameleira branca, que é uma árvore muito importante na nação Jeje. Seus filhos são chamados de Lokoses. 

Ague, Azaká é também um vodun Caviuno. A família Heviosso é encabeçada por Badë, Acorumbé, também filho de Sogbô, chamado de Runhó. Mawu-Lissá seria o orixá Oxalá dos yorubás. Sogbô também tem particularidade com o Orixá em Yorubá, Xangô, e ainda com o filho mais velho do Deus do trovão que seria Averekete, que é filho de Ague e irmão de Anaite. Anaite seria uma outra família que viria da família de Aziri, pois são as Aziris ou Tobosses que viriam a ser as Yabás dos Yorubás, achamos assim Aziritobosse. 

,A palavra Ewe-Fon, por exemplo, a casa de candomblé da nação Jeje chama-se

Kwe = "casa". A casa matricial em Cachoeira e São Félix chama-se Kwe Ceja Undé. 

Toda casa Jeje tem que ser situada afastada das ruas, dentro de florestas, onde exista espaço com árvores sagradas e rios. Depende das matas, das cachoeiras e depende de animais, porque o Jeje também tem a ver com os animais. Existem até cultos com os animais tais como, o leopardo, crocodilo, pantera, gavião e elefante que são identificados com os voduns. Então, este espaço sagrado, este grande sítio, esta grande fazenda onde fica o Kwe chama-se Runpame, que quer dizer "fazenda" na língua Ewe-Fon. Sendo assim, a casa chama-se Kwe e o local onde fica situado o candomblé, Runpame. No Maranhão predomina o culto às divindades como Azoanador e Tobosses e vários Voduns onde a "sacerdotisa" é chamada Noche e o cargo masculino, Toivoduno.

Histórico - no Brasil: "Kwe Ceja Undé", esta casa , é chamada em Cachoeira de "Roça de Baixo" foi fundada por escravos como Manoel Ventura, Tixerem, Zé do Brechó e Ludovina Pessoa.Ludovina Pessoa era esposa de Manoel Ventura, que no caso africano é o dono da terra. Eles eram donos do sítio e foram os fundadores da Kwe Ceja Undé. Essa Kwe ainda seria chamada de Pozerren, que vem de Kipó, "pantera".

A roça de cima que também é em Cachoeira é oriunda do Jeje Dahomé, ou seja, uma outra forma de Jeje. Estou falando do Mahin, que era comandada por Sinhá Romana que vinha a ser "Irmã de santo" de Ludovina Pessoa (esta última mais tarde assumiria o cargo de Gaiacú na Kwe de Boa Ventura). Mas, pela ordem temos Manoel Ventura, que seria o fundador, depois viria Sinhá Pararase, Sinhá Balle e atualmente Gamo Loko-se.

O Kwe Ceja Undé encontra-se em controvérsia, ou seja, Gamo Loko-se é escolhida por Sinhá Pararase para ser a verdadeira herdeira do trono e Gaiacú Agué-se, que seria Elisa Gonçalves de Souza, vem a ser a dona da terra atualmente.
Ela pertence a família Gonçalves, os donos da terra. Assim, temos os fundadores da Kwe Ceja Undé.

Em Areia Branca (RN) a Nação Jeje criou raízes com o Babalorixá Nilclebert de Oxum Ijimum, o qual expandiu seus fundamentos e acolheu adeptos, tendo hoje uma Família de Santos em constante crescimento.

Os Cargos: Os demais cargos são os mais importantes na hierarquia 

Babalawo:Um Babalawo, ou Pai dos segredos (awô) é muito respeitado pela cultura yorubá.O Babalawo, como o nome diz, é o conhecedor de todos os mistérios e segredos no culto à Orunmilá, sendo portanto sacerdote de ifá. Somente o Babalawo pode manipular o Rosário de ifá que em yorubá recebe o nome de opele-ifá e em ewe, língua da cultura fon ou Jeje tem o nome de agú-magá. Ainda na cultura Jeje, ifá é chamado de Vodun-fá ou Deus do destino e o Babalawo é denominado de Bokunó. 

Ogan: Os cargos de Ogan na nação Jeje são assim classificados: Pejigan que é o primeiro Ogan da casa Jeje. A palavra Pejigan quer dizer “Senhor que zela pelo altar sagrado”, porque Peji = "altar sagrado" e Gan = "senhor". O segundo é o Runtó que é o tocador do atabaque Run, porque na verdade os atabaques Run, Runpi e Lé são Jeje. 

No Ketu, os atabaques são chamados de Ilú. Há também outros Ogans como Gaipé, Runsó, Gaitó, Arrow, Arrontodé, etc.

A Nação Jeje é muito particular em suas propriedades. É uma nação que vive de forma independente em seus cultos e tradições de raízes profundas em solo africano e trazida de forma fiel pelos negros ao Brasil.

AJOIÉ E EKEDI:A palavra “ajoié” é correspondente feminino de ogan pois, a palavra ekedi, ou ekejí, vem do dialeto ewe, falado pelos negros fons ou Jeje.Portanto, o correspondente yorubá de ekedi é ajoié, onde a palavra ajoié significa“mãe que o orixá escolheu e confirmou”.Assim como os demais oloyés, 

uma ajoié tem o direito a uma cadeira no barracão.

Deve ser sempre chamada de “mãe”, por todos os componentes da casa de orixá, devendo-se trocar com ela pedidos de bençãos. Os comportamentos determinados para os ogans devem ser seguidos pelas ajoiés.Em dias de festa, uma ajoié deverá vestir-se com seus trajes rituais, seus fios de contas, um ojá na cabeça e trazendo no ombro sua inseparável toalha, sua principal ferramenta de trabalho no barracão e também símbolo do óyé, ou cargo que ocupa.
A toalha de uma ajoié destina-se, entre outras coisas, a enxugar o rosto dos omo-orixás manifestados. Uma ajoié ainda é responsável pela arrumação e organização das roupas que vestirão os omo-orixás nos dias de festas, como também, pelos ojás que enfeitarão várias partes do barracão nestes dias.
Mas, a tarefa de uma ajoié não se restringe apenas a cuidar dos orixás, roupas e outras coisas. Uma ajoié também é porta-voz do orixá em terra. 
É ela que em muitas das vezes transmite ao Babalorixá ou Yalorixá o recado deixado pelo próprio orixá da casa. 
No Candomblé do Engenho Velho ou Casa Branca, as ajoiés são chamadas de ekedis. No Gantois, de "Iyárobá". Já na Nação de Angola, é chamada de "makota de angúzo". 
Mas, como relatei anteriormente, "ekedi" é nome de origem Jeje mas, que se popularizou e é conhecido em todas as casas de Candomblé do Brasil, seja qual for a Nação.

ABIYAN:Dentro dos cultos afros-brasileiros existe uma categoria de pessoas que são classificadas de Abiyans.

A palavra Abiyan quer dizer:

Abi= "aquele que" e An= seria uma contração de "Onã", que quer dizer “caminho”. 
As duas palavras aglutinadas formaram o termo Abiyan, que quer dizer “aquele que começa”, “um novo caminho”. O Abiyan é uma pessoa que está começando um novo caminho, uma nova vida espiritual.

O Abiyan também pode ter fios de contas lavados, obrigação de bori e, até em alguns casos, ter orixá assentado.

O Abiyan é um pré-iniciado e não um simples frequentador, como muitas das vezes é classificado.Pode desempenhar várias atividades dentro de um terreiro, como por exemplo, varrer, ajudar na limpeza, ajudar nos cafés da manhã e almoços comunitários realizados em dias de festas de orixá, lavar louças, ajudar na decoração do barracão, enfim, o Abiyan pode desempenhar várias tarefas sem maior envolvimento religioso.

O período de Abiyan é de muita importância pois, é nesse período que o recém-chegado no Candomblé passa a observar o comportamento e a conviver com os já iniciados.

Existem pessoas que passaram por um longo período sendo Abiyan, antes de se iniciarem no Candomblé. Portanto, vale ressaltar a importância deste período, ou seja, Abiyan e dizer que o frequentador em yorubá, chama-se Lemó-mú.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Candomblé - Religião e Preconceito

O Candomblé surgiu no Brasil da segunda metade do século XVI à primeira metade do século XIX, advinda da áfrica. O cenário encontrado aqui era extremamente triste, pois chegavam aos portos brasileiros inúmeros navios trazendo seres humanos tratados como animais desprezíveis e mercadorias muito valiosas: os  africanos.
Homens e mulheres escravizados.Esse comercio escravagista reuniu no Brasil cerca de quatro milhões de africanos, dando lugar a um modelo de religião chamado Candomblé, significando culto e oração.
Naquela época, os senhores de engenho proibiam toda e qualquer manifestação religiosa dos escravos. Como os Senhores impunham a religião católica, os mesmos tiveram que enganar seus donos, criando assim o sincretismo religioso, onde santos da igreja católica, por terem historias de vida parecidas com as dos orixás, foram utilizados. Surgiu então o sincretismo religioso. Exemplos disso é Iansã sincretizada com Santa Bárbara e os Ibejis, sincretizado com Cosme e Damião.
A minha intenção com este artigo não é falar sobre a religião em si, mas principalmente sobre o preconceito que sofremos devido a nossa escolha religiosa. Segundo a constituição brasileira, todo e qualquer brasileiro tem direito a pratica religiosa sem descriminação.
Infelizmente no Brasil não é o que acontece. Vivemos em um cenário cada vez maior de intolerância religiosa. Creio que essa intolerância seja devido ao desconhecimento  da cultura, dos rituais e da religião em si. É esse desconhecimento que dá margem ao preconceito contra essa religião.
Você que está lendo agora, já ouviu falar a fundo do candomblé? Já visitou um terreiro? Conhece as práticas e a parte filosófica???? Quantos terreiros de candomblé, ou mesmo umbanda, que seja, você já viu por ai???
Acredito que todas as suas respostas ou duas delas é NÃO.
Provavelmente se eu te perguntar agora se você conhece algum macumbeiro, com certeza você ira dizer que sim.... Macumbeiro??? Isso é um absurdo!!!! Se algum dia eu for chamada assim (como já devo ter sido, mas nunca fiquei sabendo), com certeza a pessoa será processada. Preconceito no Brasil hoje da cadeia. E a lei me dá liberdade para que eu mesma escolha a minha religião.
Mas o que é macumba, macumbeiros?? Será que alguém é capaz de me explicar ao que se referem estes termos depreciativos?????
Como se pode julgar algo ou alguém sem conhecer realmente seus fundamentos???? Será que eu sou uma pessoa pior do que todas as outras por ter coragem de assumir que sou do candomblé?????
Deus é um só. É um ser Sagrado, Divino, Perfeito!!!!! Não importa o nome que seja dado a Ele. Deus, Oxalá, Jeová, Emanuel... Todo ser humano cultua o mesmo Deus, a única coisa diferente é a maneira como Ele é cultuado.
As igrejas evangélicas nos julgam como adoradores do diabo. Creio que este julgamento seja forte demais. No candomblé cultuamos o mesmo Deus que eles cultuam.
Quando você vai a uma igreja, geralmente é sempre a mesma coisa que é dita. “Você tem um encosto”, “Fizeram uma obra de feitiçaria para acabar com a sua vida”, “Tem trabalho feito para você, por isso sua vida está ruim”. Sei disso porque já freqüentei inúmeras igrejas evangélicas, sempre a convite de alguém. E nunca recusei nenhum. Deus está em todo lugar.
O que muitas pessoas provavelmente não sabem, é que a maldade, a inveja, o ódio estão no coração do ser humano e não nos espíritos.
O espiritismo hoje, infelizmente tem sua imagem denegrida por pessoas que fazem dele um comercio, que enganam as pessoas, que pegam quantias de dinheiro absurdas e nada fazem para ajudar e sim para que a pessoa sempre precise dela, e assim pegar mais dinheiro.
Certa vez, uma amiga me perguntou porque um exu, nunca deixa de ser um exu, porque eles nunca evoluem espiritualmente se tornando um ser de luz.... No momento eu não soube responder, e fiquei me questionando isso por vários dias... Até que cheguei a uma conclusão.
Exus são vistos como seres do mau, mas são os espíritos mais parecidos com o ser humano. Se você pegar um punhado de balas e der a uma criança e pedir para ela atirar pedras na vidraça do seu vizinho, ela certamente fará. Se você pedir qualquer coisa para um exu, e prometer uma vela para ele, ele também vai fazer o que você pediu, seja o bem ou mal para alguém. Mas a resposta não está ai.
O motivo pelo qual os exus nunca evoluem no seu grau espiritual é simples. Se um exu atender 10 pessoas num dia, uma vai pedir uma coisa boa, ou um bem para alguém, com esse pedido bom ele ganha luz. Mas o pouquinho de luz que ele ganhou com essa boa ação ele perde em seguida com as outras nove maldades que vão pedir a ele.
O bem ou o mal que existe no espiritismo, não está relacionado tanto aos médiuns, mas principalmente as pessoas que vão em busca de maldade e desgraça para o próximo.
São poucas as pessoas que eu vejo chegarem lá para pedir o bem para alguém que não seja para elas próprias. Geralmente as pessoas chegam até nós com ódio no coração. Querem transformar a vida daquele ex num inferno porque foram abandonadas, querem que aquela pessoa que as incomodam no trabalho perca o emprego e coisas desse tipo. 
Não estou dizendo que sou uma pessoa melhor do que ninguém. Apenas acredito piamente em todos fundamentos que aprendi nesses anos de Candomblé. E o mais importante deles é que tudo o que você faz para alguém você recebe em dobro. Se você faz o bem, coisas boas acontecem a você. Se você faz o mal, coisas más acontecem a você.
Para que tanto preconceito, tanta descriminação????????
Será que sou tão diferente assim, apenas por ter escolhido minha religião e ter coragem de assumi-la????
Por isso, criei esse blog para poder ter um espaço de reflexão e divulgação das atividades do Camdomblé dentro da cidade de Areia Branca - RN.

Pra finalizar, quero deixar uma frase importantíssima:
“Todos temos duas pessoas dentro de nós. Uma má e uma boa. Elas vivem numa constante luta pela sobrevivência. Só sobreviverá aquela que você mais alimentar!”